Estado aparece no ranking atrás apenas de S. Paulo
e Minas Gerais
É sob o sol do
meio-dia que os irmãos João* e Iracema*, de 10 e 13 anos, trabalham limpando
vidros nos semáforos da Avenida Antônio Carlos Magalhães para conseguir,
ao final do dia, dinheiro para comprar o pão que vai alimentar a mãe
e os quatro irmãos. Moradores da comunidade da Polêmica, em Brotas, os
jovens estão, desde 2011, fora das salas de aula. Na família dos dois, esta
realidade é comum: nenhum dos irmãos está regularmente matriculado na
escola.
Segundo João, a
decisão de afastar os filhos da escola partiu da própria mãe, vendedora de água
mineral nos semáforos, que, ao se separar do marido, precisou que
os filhos trabalhassem para "ajudar a colocar comida dentro de
casa". Hoje, o menino diz não sentir falta da escola. "Aqui
também brinco e tenho amigos. Sei até fazer conta de multiplicar e dividir, de
cabeça", gaba-se. Já Iracema conta que tem vontade de retornar à
rotina escolar: "Eu gostava de fazer o dever de casa, pintar e de arrumar
a minha mochila todos os dias. Hoje, não tem mais jeito, tenho que vir
trabalhar. Mas minha mãe disse que ano que vem a gente vai voltar".
Estatísticas - Os dois não sabem, mas eles fazem parte de uma
triste estatística: na Bahia, cerca de 290 mil crianças e adolescentes, de 10 a
17 anos, trabalham indevidamente, de acordo com a Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios de 2011, do Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa
e Estatística (Pnad/IBGE). Em números absolutos, a Bahia ocupa o terceiro
lugar no ranking dos estados com maior número de crianças e adolescentes
trabalhadores, ficando atrás de São Paulo (553 mil) e Minas Gerais (349
mil). O número corresponde a 13,5% do total de crianças e adolescentes na mesma
faixa etária do Estado. Em percentuais, a Bahia é o 10º estado no que se
refere ao índice de trabalho infantojuvenil.
De acordo com o
coordenador nacional do Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho
Infantil (Ipec), da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
Renato Mendes, o trabalho infantil, atualmente, assumiu um perfil
diferente do que se observava em 1992, quando as políticas para a erradicação
do problema se efetivaram. "Há 20 anos, quando foi criado o Programa
de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), o perfil do pequeno
trabalhador explorado era diferente de hoje. Estudos comprovam que,
hoje, 40% das crianças e adolescentes que trabalham já não fazem só por causa
da pobreza, mas sim porque querem ter acesso aos bens da modernidade, como celular,
smartphones, tablets, roupas", explica.
* Nomes
fictícios
Escrito por Luana Almeida - A Tarde
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